Documentário “BR-163 – A Luta pela Vida” segue com gravações em Sorriso e revela relatos impactantes sobre a rodovia

A equipe do documentário “BR-163 – A Luta pela Vida” esteve nesta semana em Sorriso (MT), dando continuidade às gravações que percorrem os principais trechos da rodovia para revelar, por meio de depoimentos reais, a dura realidade de quem trafega ou vive às margens da BR-163.

Nesta etapa, foi entrevistado o policial rodoviário federal Leonardo Ramos, que atua na região desde 2009. Com 16 anos de experiência ao longo da BR-163, Ramos compartilhou relatos marcantes sobre a evolução da estrada, os riscos crescentes com o tráfego intenso de caminhões e os impactos emocionais da profissão.

“Essa rodovia é estratégica para o país, é por onde passa grande parte da produção agrícola que sustenta a nossa balança comercial. Mas ela também carrega uma face dolorosa, marcada por tragédias e desigualdades. O documentário é pertinente porque fala não só do asfalto, mas das vidas que cruzam por ele todos os dias”, afirmou.

Durante a entrevista, o PRF destacou que muitos dos acidentes envolvem pessoas migrantes, vindas de outras regiões do Brasil, que não estão familiarizadas com o trânsito agressivo e pesado da BR-163. “São pessoas que vieram tentar uma nova vida e acabam encontrando aqui um risco que muitas vezes é fatal. Os caminhões modernos, a pista ainda majoritariamente simples e a cobrança excessiva no transporte contribuem para um cenário que exige atenção constante.”

Ramos também falou sobre os impactos psicológicos da profissão. “A gente liga o modo profissional, mas vai acumulando dor, tristeza. Um dia esse copo transborda. E quando transborda, vem a cobrança da saúde mental. Muitos colegas adoecem”, desabafou, ao lembrar da perda recente de amigos de farda.

Outro depoimento marcante foi o de Rita Rosângela Gomes Meira, que perdeu quatro familiares em um único acidente na BR-163: a filha de 12 anos, Aquila Samily Meira; o irmão, Daniel Marcos de Meira; a sobrinha de 15 anos, Adelicia Virgem de Meira; e a cunhada, Zélia Virgem. Todos morreram no local.

Rita contou, de forma serena, a sensação de desamparo diante da tragédia. O que mais a marcou foi o que encontrou sobre o motor retorcido do carro: uma Bíblia intacta. “Era como se Deus quisesse me mostrar que, mesmo em meio àquele horror, Ele ainda estava comigo. Eu perdi tudo, mas aquela Bíblia foi um sinal de que eu precisava continuar”, relatou.

O projeto audiovisual foi contemplado por meio de edital da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT), com recursos da Lei Paulo Gustavo. A proposta foi selecionada na categoria documentário e tem como objetivo dar visibilidade a histórias reais que retratem questões sociais, mobilidade e segurança no estado.

Sob a direção do estreante Jorge Esteban Sepúlveda Tejos, o documentário aposta em uma abordagem sensível e profundamente humana. “Nosso foco é ouvir quem, muitas vezes, só aparece como número em uma estatística. A BR-163 corta não só o estado, mas atravessa famílias, sonhos e cicatrizes. Como diretor, meu papel é escutar com respeito e transformar essas histórias em memória coletiva”, afirmou Jorge.

Com uma agenda em Cuiabá para o final do mês, a equipe de filmagem irá entrevistar autoridades, líderes comunitários e de movimento em prol da melhoria da anteriormente conhecida como Rodovia da Morte, que hoje, busca uma renovação investindo em infraestrutura.

O documentário segue em produção e deve percorrer outros municípios nas próximas semanas, dando visibilidade às histórias que ilustram a face humana de uma das rodovias mais importantes — e perigosas — do Brasil.