ARTIGO - Mudanças climáticas: um chamado para empresas familiares
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.
Por João Ricardo
10 de Julho de 2024 às 10:30
Apesar de 95,4% da população brasileira afirmar que tem consciência sobre as mudanças climáticas, conforme pesquisa deste ano do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), é inegável que ainda há muito o que ser feito para que segurança climática, alimentar e energética possam caminhar juntas.
Voltei muito sensibilizada após participar do Global Agribusiness Festival (GAFFFF), o maior festival de cultura agro do mundo, realizado entre 27 e 28 de junho, em São Paulo. Estar presencialmente me deu uma visão sustentada sobre o que está em causa, os obstáculos e os desafios que temos pela frente.
Nos últimos anos, as mudanças climáticas têm se manifestado de maneira cada vez mais evidente e severa ao redor do mundo: com aumento das temperaturas, eventos extremos [como as enchentes no Rio Grande do Sul, furacões, tsunamis e secas] e a acidificação dos oceanos, que são sinais alarmantes de um planeta em transformação. Há estudos que mostram que as áreas tropicais do planeta se tornarão desertos (isso inclui o Brasil!) e que os “novos cerrados” estarão em países como Canadá e Rússia.
Além de afetar os ecossistemas naturais, tais fenômenos exercem forte impacto sobre as populações ao redor do mundo. Outro ponto importante é a segurança alimentar, já que as mudanças climáticas atingem diretamente a produção agrícola, alterando padrões de chuva, disponibilidade de água e condições de cultivo o que pode levar a uma diminuição na produção de alimentos, o que pode resultar em mais fome em localidades vulneráveis.
Em relação à segurança energética, embora nossa matriz energética seja a mais limpa do mundo (segundo a AIE – Agência Internacional de Energia), temos uma missão de ajudar o planeta colaborando com a produção de biocombustíveis e etanol, e no fomento de políticas de estímulo ao uso dos mesmos, inclusive internacionais, o que contribuirá diretamente para a redução do consumo de combustíveis fósseis.
Nesse contexto, empresas familiares, como agentes econômicos e sociais, desempenham um papel crucial na adaptação e mitigação desses impactos. Então, a questão é como o seu negócio poderá minimizar impactos e perenizar para as próximas gerações, sem “legados negativos”?
Para enfrentar os desafios que temos pela frente de maneira eficaz, é essencial alinhar segurança climática, alimentar e energética, já que as três dimensões estão intrinsecamente conectadas e suas soluções complementares podem fortalecer a resiliência global. No livro Gigante pela Própria Natureza, Miguel Setas destaca que o destino da Terra depende de nós e que isso exige adotar uma visão estratégica “estrábica”: um olho no curto prazo e outro no longo prazo (longo mesmo!).
Em 2050, seremos 10 bilhões de pessoas na Terra... e o Brasil pode ser o hub climático do mundo, a partir do seu lugar no mercado internacional de carbono, da sua agricultura sustentável, da produção de energia renovável em grande escala e da indústria verde.
Vale a pena destacar que a inovação tecnológica desempenha um papel crucial no enfrentamento às mudanças às climáticas, desde técnicas agrícolas de conservação até sistemas avançados de armazenamento de energia, há um vasto campo para o desenvolvimento de soluções que promovam a segurança climática, alimentar e energética. “É um novo papel e chance única de progresso verde para o Brasil, nesse mundo em transformação”, afirma Setas.
Outro ponto importante é investir em educação e conscientização com o intuito de sensibilizar o maior número possível de pessoas sobre a importância da sustentabilidade, que vai além de proteção ao meio ambiente, pois compreende modelos econômicos que permitam o equilíbrio econômico, social e ambiental.
Como podemos ver, esse é um desafio global sem precedentes, que significa um “chamado”, sobretudo para as empresas familiares, que podem atuar como catalisadoras de mudanças culturais e comportamentais que promovam um futuro mais sustentável, já que são frequentemente vistas como pilares das suas comunidades.
Mais do que mitigar os riscos, essas empresas podem fortalecer e multiplicar as oportunidades de crescimento sustentável em longo prazo. O futuro do nosso planeta está em jogo e cabe a todos nós assumir uma responsabilidade intergeracional, pensando que aquilo que se decide hoje propaga o futuro com suas implicações... Qual legado você, sua família empresária e sua empresa familiar estão construindo HOJE?
Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.