Mudanças climáticas podem elevar preços de alimentos ainda em 2024
Segundo Oliveira, o impacto será mais perceptível nos cítricos, como laranjas e limões, produtos particularmente sensíveis às condições climáticas instáveis.
Por João Ricardo
18 de Setembro de 2024 às 07:15
A resiliência dos produtores de alimentos pode enfrentar um grande desafio este ano, caso as variações climáticas abruptas continuem a afetar o Brasil.
A alternância entre períodos de calor intenso, frio extremo e a seca, que facilita a disseminação de incêndios, são fatores que podem impactar diretamente o setor agropecuário.
O alerta vem do economista Thiago de Oliveira, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que prevê que esses eventos climáticos poderão influenciar os preços no varejo ainda em 2024.
Segundo Oliveira, o impacto será mais perceptível nos cítricos, como laranjas e limões, produtos particularmente sensíveis às condições climáticas instáveis.
A seca prolongada pode não apenas afetar a produtividade, mas também favorecer o avanço de doenças como o Cancro Cítrico e o Greening, causadas por uma bactéria transmitida pelo inseto Psilídeo.
Em 2024, essas doenças já resultaram na erradicação de mais de 2 milhões de pés de cítricos em São Paulo, principal estado produtor.
"Se não houver uma melhora significativa nos níveis de umidade, teremos um aumento expressivo de custos. A partir de outubro, podemos esperar reflexos no atacado, com impactos subsequentes no varejo, chegando ao consumidor final," explica o economista.
Além dos cítricos, as hortaliças – tanto folhas quanto legumes – podem sofrer impactos em dezembro. Apesar de a seca recente ter favorecido a colheita, ela comprometeu os ciclos de plantio e crescimento, especialmente em pequenos produtores. "O clima seco facilita a maturação, mas prejudica o plantio, o que pode provocar uma elevação nos preços no auge da demanda, durante os meses mais quentes," observa Oliveira.
Desafios para Pequenos Produtores
Oliveira também destacou que a inconstância climática registrada no último ano, com flutuações inesperadas de calor e frio, dificultou o planejamento agrícola, prejudicando principalmente os pequenos produtores. "Diferentemente dos grandes, que diversificam suas culturas, o pequeno produtor rural, sem capital de giro e capacidade de investimento, enfrenta mais dificuldades.
Embora isso ainda não tenha se refletido em endividamento, muitos estão plantando em menor escala, reduzindo os riscos," acrescenta.
Perspectivas e Tendências de Preços
Apesar das dificuldades, os preços de frutas e verduras vinham apresentando queda nos últimos meses, conforme os dados da Ceagesp e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com destaque para o tomate e a batata. No entanto, a previsão de manutenção desses preços depende das condições climáticas.
"As chuvas que ocorreram recentemente são um bom sinal para a produção, mas é crucial que sejam bem distribuídas ao longo das áreas de cultivo, o que nem sempre tem acontecido," alerta Oliveira.
Queimadas e Impacto Climático
Desde agosto, São Paulo tem enfrentado grandes queimadas, agravadas pela seca prolongada. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil de São Paulo, apesar da redução de 88% nos focos de incêndio nas últimas semanas, três municípios – Itirapuã, Rifaina e Bananal – ainda registram queimadas ativas.
A Defesa Civil continua em alerta e mantém equipes de prontidão, especialmente no norte do estado, onde as chuvas ainda não foram suficientes para extinguir completamente os focos de incêndio. A recomendação é que a população adote cuidados extras para evitar novas queimadas, que também afetam diretamente a produção agrícola e, consequentemente, os preços dos alimentos.